top of page

Um Conto de Natal - Por Idaleia M. O. Silva, autora do livro Querubim.




Priscila há muito tempo já havia perdido a vontade de viver! Seus pais morreram em um acidente de carro e o irmão caçula morava bem longe dali. Na noite anterior ao natal, ela tinha tudo planejado, iria dar um fim à sua vida.

Sentada na cadeira de balanço do velho quarto da quitinete em que morava, pegou uma folha de caderno e uma caneta, começou a escrever uma carta de despedida para o irmão, seu único parente vivo.


“Querido irmão,

Venho por meio desta carta lhe pedir perdão pelo que fiz, mas já não aguentava mais viver na solidão. Não o estou culpando por nada, pois sei que você tem a sua própria vida para viver. Espero que me perdoe, mas este mundo não tem mais lugar para mim! Quero que você seja muito feliz, se case e tenha filhos lindos. Lembre-se de mim como uma boa irmã, na verdade sei que não fui tão boa assim... Se nossos pais estivessem aqui sentiriam orgulho do homem que você se tornou. Eu tenho orgulho de você. Só peço que quando se lembrar de mim, que seja sempre sorrindo. Não me julgue e quando for falar de mim, que sejam apenas coisas felizes. Não fique triste, saiba que eu ainda não encontrei o que estou procurando, quem sabe em uma próxima reencarnação? De onde eu estiver vou estar olhando por você. Ah, se eu encontrar papai e mamãe mandarei um beijo seu para eles.


Te amo,

Priscila"


Ela dobrou a carta em duas partes e a colocou dentro de um envelope, passaria nos correios e enviaria à moda antiga. Na verdade, Priscila não tinha coragem de enviar um e-mail ao irmão contando sobre sua decisão, pois ele teria tempo de tentar impedi-la. Já a carta, quando fosse entregue, tudo já estaria feito.

Tomou o último gole de café e saiu, a carta queimava no bolso da saia jeans. A rua em que morava estava toda enfeitada, as árvores nos jardins tinham enfeites de todas as cores, as casas estavam iluminadas pelas luzes de natal e as crianças brincavam com os brinquedos novos que tinham acabado de ganhar.

Priscila daria tudo para voltar a ser criança e voltar a contemplar o natal. A ceia na casa da avó, os primos correndo em volta da mesa arrumada, os tios conversando na sala de estar. O cheiro do chester assando no forno...

Priscila nunca mais teria isso, os primos haviam se casado e cada um tinha a sua família, os pais e os avós já não estavam mais ali. Não tinha sentido continuar...

Se aproximando do correio, Priscila avistou uma igreja, as luzes estavam acesas e uma música natalina era cantada animadamente por um coral, Priscila se aproximou, mas não entrou na igreja. Começou a se afastar e voltar ao plano original, não percebeu quando um jovem começou a segui-la.

O jovem era Emanuel, um rapaz estudioso e trabalhador, era o mais novo de cinco irmãos. Emanuel viu a jovem se aproximar da igreja e sair cabisbaixa com um olhar triste. Resolveu segui-la, afinal era noite de natal e ele não entendia porque uma pessoa podia estar tão triste em uma noite tão especial.

Emanuel viu a jovem hesitar em frente à porta do correio, de repente ela se encostou na parede e começou a chorar, Emanuel se aproximou.

— Oi, muito prazer. Sou Emanuel

A jovem se levantou e começou a secar as lágrimas que escorria no rosto.

— Sou Priscila.

— Eu vi você sair da igreja apressadamente e com um olhar tão triste que não pude deixar de segui-la.

— Então você é do tipo que segue desconhecidas pela rua?

— Não, está foi a primeira vez. Mas me conte, qual o motivo de tanta tristeza?

— Eu vou ficar bem, não se preocupe comigo.

Priscila deu um passo para entrar no correio quando Emanuel tocou em seu braço.

— Eu tenho pouco tempo de vida, tenho um câncer que está corroendo todo o meu corpo de dentro para fora e eu daria tudo para ter mais tempo, talvez este seja o meu último natal, não quer me fazer companhia?

Priscila respirou fundo e se deu conta de como a vida é preciosa, ela ali disposta a dar um fim à sua, enquanto aquele rapaz só queria ter mais tempo.

— Não chore, moça.

Emanuel tocou o rosto de Priscila e com a ponta do dedo secou uma lágrima que caia novamente. Priscila pegou a carta no bolso da saia e a amassou, logo jogou na primeira lixeira que encontrou. Emanuel a levou para casa, então pela primeira vez naquela noite de véspera de natal, ele a viu sorrir.

A casa dele estava cheia, os irmãos com as esposas e filhos, enchiam a casa. A árvore na sala, estava repleta de presentes, que logo foram abertos. Gritos e conversas ecoavam por toda a casa, Emanuel apresentou Priscila como sua amiga, era o primeiro Natal em que ela passava sem os pais e o primeiro em que ela passava com completos estranhos. Sentiu-se feliz novamente, mesmo que fosse uma felicidade momentânea, soube que a vida valia a pena. Ficou grata por Emanuel tê-la seguido e salvado sua vida.

Emanuel também agradecia a Deus por tê-la conhecido, era o primeiro natal na sua família em que não se sentiu tão deslocado. Combinaram de se ver no dia seguinte, e desde então se viam todos os dias, tornaram-se melhores amigos e um ano depois, quando o câncer finalmente tomou a vida de Emanuel, Priscila se mudou e alugou uma pequena casinha ao lado da casa do irmão.

Então todos os natais ela estava em família novamente. Ela sempre pensou em Emanuel como um milagre de Natal, que foi enviado pelos anjos, para resgatá-la.




Autora: Idaleia M. O. Silva

Conheça o próximo lançamento da autora, o livro Querubim:




Até a próxima!


70 visualizações1 comentário
bottom of page